Análise UVE | Furto e vandalismo em Postos de Carregamento de Veículos Elétricos

Face à onda de vandalismo em Postos de Carregamento de Veículos Elétricos em Portugal nas últimas semanas, a UVE apresenta uma análise extensiva sobre os impactos destas ocorrências, tanto nos utilizadores como nos operadores dos postos, e avança com propostas para que a situação seja abordada de forma a restaurar todos os esforços, desenvolvidos até à data, rumo à descarbonização da mobilidade.


Este documento foi partilhado com as seguintes entidades oficiais: Ministério das Infraestruturas, Secretária de Estado da Mobilidade, Ministério da Administração Interna, Ministério da Justiça, Conselho Nacional de Planeamento Civil de Emergência, Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) e a Mobi.E.


Assunto: Furto e vandalismo em Postos de Carregamento de Veículos Elétricos – Análise, proposta de reforço legislativo e programa de apoio

A UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos manifesta a sua profunda preocupação com a crescente ocorrência de furtos e atos de vandalismo sobre cabos de carregamento em Postos de Carregamento de Veículos Elétricos (PCVE), registados em várias regiões do país.

Estes incidentes estão a criar sérios constrangimentos para os utilizadores, comprometendo a confiança na rede pública de carregamento, causando prejuízos significativos aos OPC (Operadores de Pontos de Carregamento) e colocando em causa o esforço coletivo da transição energética e descarbonização da mobilidade.

A 30 de setembro de 2025 – com dados publicados no Ponto de Acesso Nacional (PAN) –, existiam 2.630 PCVE rápidos e ultrarrápidos na rede de carregamento pública, os quais representam mais de 6.100 cabos. Estes postos distribuem-se por 245 municípios (80% dos municípios), com a seguinte distribuição de potências:

Apesar de não ser um fenómeno novo, nem exclusivo de Portugal, desde o passado mês de agosto de 2025, estamos a assistir a um aumento considerável de corte/furto de cabos de carregamento de PCVE rápidos e ultrarrápidos, conforme mostram a tabela e gráficos seguintes:

No final da semana 40, (início de outubro), do corrente ano estas ocorrências tinham já incidência sobre 10,3% da rede pública de carregamento, que possui dados publicados no PAN, rápido e ultrarrápido, com maior incidência nos seguintes municípios:

Seguem duas imagens gráficas que pretendem ilustrar a repercussão destas ocorrências na utilização da rede de carregamento de dois municípios mais afetados, onde é perfeitamente visível o impacto no mês de setembro [fonte: Observatório da Mobilidade Elétrica (observatorio.uve.pt)]:

Distrito: SANTARÉM | Município: CARTAXO

Distrito: LISBOA | Município: LOURINHÃ

No anexo I partilhamos uma listagem detalhada de todos os municípios afetados e respetivo impacto percentual na rede de carregadores rápidos e ultrarrápidos desse município.

Desde abril de 2025 foram afetados 327 postos de carregamento, com o furto de 720 cabos, que representam 10,3% da rede de postos de carga rápida e ultrarrápida atualmente instalada em Portugal, com dados publicados no PAN. Estes equipamentos, em condições normais de funcionamento registavam mais de 12.000 horas de utilização, por mês, por parte dos utilizadores [fonte: Observatório da Mobilidade Elétrica (observatorio.uve.pt)]. Estes números dão uma ideia muito concreta da dimensão, urgência de reposição do serviço e a severidade desta situação ao nível das consequências para o Utilizador.

A indisponibilidade destes postos de carregamento provoca um impacto financeiro operacional, estimado em mais de um milhão de euros por mês para os operadores, agravado ainda pelos custos de reposição e pelas dificuldades logísticas de restabelecimento do serviço, o que demonstra a gravidade do problema, e reforça a urgência de medidas eficazes de prevenção e resposta.

No anexo II encontra-se a listagem completa e detalhada dos postos afetados, com o respetivo impacto financeiro estimado, fruto da sua inoperacionalidade, bem como um mapa ilustrativo da sua distribuição geográfica.

Notar que os dados apresentados, no anexo II, referem-se apenas à rede de carregamento público que, à data de hoje, comunica dados para o PAN da sua operação. Não estão assim considerados os valores de utilização e impacto financeiro sobre as restantes redes de carregamento, nomeadamente, Tesla e Continente Plug & Charge, cujos dados não são partilhados.

Para além do impacto direto sobre os utilizadores e operadores, esta situação representa um grave risco de redução do investimento no setor da mobilidade elétrica. A instabilidade e insegurança associadas ao vandalismo e furto de componentes críticos podem levar os operadores e investidores privados a adiar ou redimensionar projetos de expansão da rede, prejudicando o crescimento da infraestrutura e, consequentemente, o ritmo de adoção dos veículos elétricos em Portugal.

Tendo em conta que os postos de carregamento de veículos elétricos são hoje infraestruturas essenciais para a mobilidade elétrica (sendo inclusivamente algumas consideradas projetos PIN – Potencial Interesse Nacional), entendemos que deve ser equacionado o enquadramento destes atos de sabotagem e furto como crimes contra infraestruturas críticas, com o consequente agravamento das molduras penais aplicáveis. Apenas desta forma será possível criar um efeito dissuasor robusto perante este fenómeno que, de forma reiterada, tem afetado o normal funcionamento da rede.

De referir que, como é de conhecimento público, o decreto-lei nº22/2025, de 19 de março de 2025, fruto da transposição da Diretiva (UE) 2022/2557 CER (Resiliência das Entidades Críticas) do Parlamento Europeu e do conselho de 14 de dezembro de 2022, que aborda exatamente esta problemática e encontra-se em processo de implementação, sendo por isso de extrema relevância ter em consideração estas ocorrências no referido processo.

Paralelamente, consideramos de elevada importância que seja estudado um programa urgente de apoio às infraestruturas de carregamento, estruturado em dois eixos complementares:

  1. Medidas preventivas e de segurança adicional – apoio à implementação de soluções de reforço da proteção física e eletrónica dos equipamentos, como sistemas de monitorização, alarmes, sensores e revestimentos anti-corte, iluminação reforçada ou dispositivos de bloqueio dos cabos, entre outros, com vista a mitigar os efeitos dos furtos e atos de vandalismo.
  2. Incentivo à rápida recuperação dos equipamentos afetados – criação de um mecanismo de compensação para os operadores que assegure a reparação e reposição do serviço em prazos reduzidos, premiando a eficiência e a capacidade de resposta, de modo a minimizar o impacto para os utilizadores e para a rede no seu conjunto.

A UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos –, está inteiramente disponível para colaborar com a tutela no estudo e implementação de soluções eficazes que protejam e valorizem a rede nacional de carregamento de veículos elétricos, condição fundamental para o sucesso da mobilidade elétrica em Portugal.

Lisboa, 9 de outubro de 2025

Anexo I

Número de cabos furtados, ordenado por taxa de impacto em cada Município

Anexo II

Listagem das tomadas dos postos afetados, com impacto financeiro estimado


Análise UVE | Furto e vandalismo em Postos de Carregamento de Veículos Elétricos

Documento completo da análise UVE, incluindo anexos I e II