Bicicletas com motor, o melhor doping para subir as sete colinas

Logo após primeiro Encontro Nacional de Grupos Promotores da Mobilidade Urbana em Bicicleta (http://ciclaveiro.pt/engpmub), surge uma notícia acerca da utilização de bicicletas elétricas. E mais acrescentamos ao artigo: “(…)não há motivos para ter vergonha de usar uma bicicleta elétrica(…)”, pelo contrário, há motivos para as pessoas se orgulharem e divulgarem a mensagem! Boas pedaladas eletrizantes!

Artigo do Diário de Notícias disponível aqui.

Depois do caso do doping mecânico na Bélgica, o DN foi perceber como se usam no dia-a-dia os motores das bicicletas e descobriu que uma ajuda a pedalar é sempre bem-vinda

Ir sozinho na bicicleta e de repente ter a sensação de que está mais alguém a pedalar ou que se ganhou força nas pernas. São estas as sensações de quem usa bicicletas elétricas. Numa cidade como Lisboa, marcada pelas suas sete colinas, o recurso às pedelec (acrónimo para pedal electric cycle) é cada vez mais comum. “A bicicleta elétrica faz que Lisboa vire uma cidade plana”, aponta Ana Suárez, dona de um destes modelos desde agosto.

No uso do dia-a-dia ninguém precisa de esconder esta opção, ao contrário do que aconteceu com a ciclista belga Femke van den Driessche, que recorreu a um motor escondido na sua bicicleta de competição. Artimanha que fica na história do ciclismo como o primeiro caso de doping mecânico confirmado na modalidade.

Já os ciclistas amadores exibem orgulhosamente as suas pedelec – aliás à primeira vista são iguais às outras – e não têm dificuldade em enumerar as vantagens. “Permitem gerir o esforço da pedalada, não retira a sensação de se estar a conduzir uma bicicleta, ajuda quando estamos mais cansados, com mais carga e evita termos de escolher o percurso menos acidentado para chegar ao destino”, aponta Bruno Santos, da loja Cenas a Pedal.

No caso da médica Ana Suárez, a mudança das Astúrias para Lisboa há nove anos trouxe-a para uma cidade “muito confusa, com transportes públicos q.b.”. Daí à escolha pela bicicleta foi um passo: “As greves constantes do metro e o facto de andar de bicicleta desde pequena levaram-me a começar a usá-la em Lisboa.” Vive na Baixa e trabalha em Telheiras, todos os dias faz o percurso em duas rodas, agora com a ajuda de um pequeno motor. Ana estava a começar a usar desculpas para não usar a bicicleta e viu no upgrade tecnológico da versão tradicional a solução para o seu problema. “Sentia algum medo do trânsito, a pressão de andar mais depressa, porque os carros estavam atrás de mim e agora com a bicicleta elétrica já não sinto isso.”

Mas se esta solução parece ser a ideal para quem não quer deixar de andar de bicicleta mas está cansado, arranjou emprego mais longe ou tem filhos para transportar, tem um senão: o custo.

Adaptar ou comprar de origem?

Mudar para uma versão elétrica pode ser feito através da adaptação do modelo tradicional ou comprando uma com motor de origem. Ambas as escolhas obrigam a um investimento considerável.

Ana Suárez passou pelos dois processos. Começou por adaptar a sua velhinha bicicleta, mas “não correu bem por causa da qualidade do motor”. Nesta experiência gastou 800 euros, mas “devolveram-me o dinheiro porque as coisas não correram bem”. Depois deste contratempo, a médica de 39 anos acabou por optar pela compra de um modelo elétrico. “Ainda foi um grande investimento, apesar de ser em segunda mão, custou-me dois mil euros.”

Há modelos novos mais em conta, confirmam Bruno Santos e Ana Pereira, da Cenas a Pedal, que só aconselham recorrer à adaptação “se a bicicleta original for de muito boa qualidade”. É precisamente a pensar na qualidade dos motores e nos problemas futuros que o dono dos armazéns AIRAF (uma das mais antigas oficinas de bicicletas de Lisboa) aconselha a que os ciclistas optem por um modelo de origem. “Para quê gastar 500 ou 600 euros a adaptar uma bicicleta quando temos uma scooter elétrica nova por 800 euros, tão jeitosa?”

No entanto, existem diferenças entre scooters e as pedelec. As últimas não precisam de uso de capacete e têm um limite de velocidade de 25 km/hora. A que se junta o facto de poderem entrar nos transportes públicos e serem facilmente guardadas em casa.

Normalmente, as pedelec têm dois sistemas: um de aplicação do motor na roda (“é como se alguém nos fosse a empurrar”) e outro na pedaleira (“é como se alguém pedalasse ao mesmo tempo que nós”). Têm níveis de assistência que podem ser programados pelos ciclistas e permite definir quando é que querem que o motor dê mais assistência à pedalada.

Os donos do Cenas a Pedal acreditam que “não há motivos para ter vergonha de usar uma bicicleta elétrica”. Mais : “Esta pode ser uma excelente ajuda para melhorar o uso deste meio de transporte.” Atualmente, apenas 0,2% das deslocações em Lisboa se fazem neste meio, que “é mais ecológico e económico do que um carro ou uma mota”, sublinha Ana Pereira.

(DN, Ana Bela Ferreira)