e-Viagem: UVE regressa a Marraquexe em BMW i3

Crónica de uma viagem a Marrocos para apoiar António Félix da Costa na Formula E – Marrakesh E-Prix 2019

Após a vitória de António Félix da Costa e do bom desempenho da equipa BMW i Andretti Motorsport na Arábia Saudita, andávamos todos muitos entusiasmados com o campeonato 2019 da Formula E.

A ideia surgiu em cima da hora, a 20 de dezembro, numa reunião de preparação do ENVE – Encontro Nacional de Veículo Elétricos. Enviada a mensagem, a BMW recebeu-a com entusiasmo e nessa mesma noite já existia uma agenda com os trabalhos que teriam de ser feitos para conseguirmos ir.

Duas ou três tarefas eram do tipo, para ontem: registo dos novos carros, seguros, autorizações para entrar com os carros em Marrocos. Tudo foi feito num tempo recorde, com Natal e fim de ano pelo meio.

A viagem em si

A viagem em si, sabíamos que não seria um desafio muito complexo, pois os novos BMW i3 de 120 Ah seguramente fariam 250 km em autoestrada a velocidades aceitáveis e existiam postos de carga rápida com apenas uma ligação máxima de 236 km.

Mas se levar um carro não era desafio, levar três era tarefa mais complicada. Assim já torna as coisas mais interessantes, gerir os carregamentos de uma caravana com três carros e apenas um posto de carregamento rápido na maior parte das paragens, assim sim!

A tática era simples, um carro saía primeiro e mantinha sempre um certo avanço em relação aos outros dois para rentabilizar o uso dos carregadores rápidos.

Viagem marcada, hotéis e ferry-boat reservados, saímos a 9 de janeiro. Basicamente seriam 2 + 2 + 2 dias. Dois para ir, dois para estar, dois para regressar, simples!

Os primeiros dois dias

Os dias de viagem para renderem têm de começar cedo:

  • Às 07h00 estávamos a rolar em direção a Aljustrel. Na área de serviço da Galp, primeira carga; um carro em CCS (DC) outro em AC. E o terceiro carro? Pedimos para ir ao outro lado, na área de serviço do sentido contrário existe outro PCR, e assim foi. O terceiro carro seguiu para o lado contrário para também carregar em CCS. (Os dados exatos da viagem podem ser consultados no final da crónica).
  • De Aljustrel seguimos para Loulé onde o esquema foi semelhante. Infelizmente o PCR de Loulé não permite a carga simultânea em DC e AC. O AC, embora carregue mais lento, no caso do i3 a 11 kW, que é um dos pontos positivos do carro, a maior parte dos VE possuem carregadores internos de capacidade inferior, conseguia introduzir nas baterias de um dos nossos i3 quase 15 kWh enquanto carregávamos os outros dois VE.
  • Sevilha, Kenitra e Berrechid, estes dois últimos já em Marrocos, só dispúnhamos de um PCR com capacidade de DC + AC e o plano eram 40 minutos em CCS para os dois primeiros enquanto o terceiro carro ia carregando os tais 15 kWh em AC. 20 minutos em CCS no final para o terceiro carro chegavam e despachávamos as cargas em duas horas.

Na prática resultou a 100% em todos os carregadores de Marrocos. Sevilha… foi um pesadelo. Já esperávamos problemas e os relatos das redes sociais e comentários no Electromaps não eram muito positivos.

Levámos cartões físicos e a App da IBIL instalada com utilizador devidamente registado, mas nada funcionou, o posto não conseguia comunicar com a rede e quando o fazia acabava por dar um erro ao fim de 2-3 minutos de carga. Tínhamos um plano B que eram dois carregadores AC de 22 kW (11 no caso dos nossos i3) num supermercado Aldi a cerca de 1 km do PCR da Ibil de Sevilha (Mairena del Aljarafe).

Em contacto com a IBIL acabámos por encontrar um solução, atribuindo um crédito sobre um cartão de um CEME nacional. Mas o carregador nunca funcionou bem, interrompia a carga várias vezes, bloqueava o CCS… muito difícil. Foram mais de 3 horas até conseguirmos seguir viagem.

Em Tarifa terminou o nosso primeiro dia de viagem. O primeiro VE chegou às 21h25m e os outros dois às 23h15m. No Hostal Tarifa tínhamos três tomadas trifásicas de 32 A à nossa espera. Utilizámos os carregadores portáteis, que nestas viagens não podem faltar, no dia seguinte todos os i3 estavam a 100% para seguir viagem.

Até Marraquexe tudo correu como esperado. Os PCR de Marrocos são abertos. Alguns nem de cartão precisam, outros qualquer cartão com RFID permite iniciar a carga.

No final do segundo dia chegámos ao hotel em Marraquexe às 21h50. Aqui tínhamos umas simples tomadas 16 A (schuko) para carregar, e como estaríamos hospedados três noites seria mais do que suficiente para carregar os i3.

Em Marraquexe

Os dois dias em Marraquexe foram de emoções fortes com visita ao centro da cidade até às 16h do primeiro dia. A partir daí foi Formula E, visita à boxe da BMW i Andretti Motorsport, tendo como guia o próprio António Félix da Costa… espetáculo! As fotos dizem tudo.

No segundo dia diretos para o circuito para acompanhar a qualificação, visitar a E-village e a corrida. Falar sobre a corrida, mesmo agora que já passaram uns dias é difícil. Provavelmente não teríamos saído de Marraquexe no dia seguinte se a vitória tivesse acontecido. Esteve tão perto, mais de trinta minutos a levantar as bandeiras volta após volta e depois ver o acidente e as imagens do António junto da vedação da pista foi tão difícil. Ele irá ganhar com certeza outras provas este ano visto que o carro está muito competitivo e ele muito confiante.

Terminámos a nossa última noite em Marraquexe a jantar com amigos da mobilidade elétrica de Marrocos. É sempre muito bom ouvir a realidade de outros países, trocar experiências, ouvir novidades, são sempre horas de conversa muito interessante.

O regresso

Domingo, dia 13, era dia de iniciar o regresso a casa. Já mais familiarizados com as novas capacidades da bateria de 120 Ah avançámos confiantes para uma ligação de 236 km (Marraquexe – Casablanca). Carregamento em Casablanca e Kenitra para chegarmos a Tânger, onde dormimos.

No último dia de viagem, ferry-boat para atravessar o Mediterrâneo e novo pesadelo para carregar em Sevilha, desta vez ainda pior, porque não conseguimos carregar nenhum carro em CCS, pois o conector do PCR da IBIL estava avariado. Carregámos os três carros em postos AC de 22 kW e passámos mais quase quatro horas em Sevilha.

O resto da viagem decorreu conforme planeado. Cargas em Loulé e Aljustrel com chegada do primeiro carro a Lisboa às 22h e os outros dois 10 minutos antes da meia-noite. Missão cumprida!

O BMW i3 120 Ah

Termos três carros a fazerem os mesmos percursos durante seis dias permitiu a recolha de inúmeros dados e testes em várias situações (Ver caixa em anexo). No total, 90% dos mais de 2.600 km foram percorridos em autoestrada, o cenário mais exigente para um VE. As autoestradas de Marrocos são iguais às nossas, com a diferença de, regularmente, aparecerem pessoas a caminhar ou a atravessar a faixa de rodagem.

Se a condução em autoestrada é igual à nossa, dentro das cidades é muito para lá do imaginável. Duas faixas são três, se há três dá para cinco carros, pelo meio temos motas, bicicletas, burros e carroças a passarem por todo o lado a milímetros do carro. Mas na cidade por muita confusão, desorganização, mudança de faixa, viragem para a esquerda ou para a direita o BMW i3 está totalmente em casa, e ajuda a sair de qualquer situação difícil.

Querem histórias? A caminho da principal praça de Marraquexe (Jemaa el-Fna) o GPS queria meter-nos dentro da praça por ruas onde duas motas tinham dificuldade em se cruzar. Foi preciso voltar para trás, inverter a marcha e foi uma oportunidade para o i3 brilhar.

Um dos nossos maiores receios era o conforto que os bancos de um carro que não foi concebido para viagens longas podiam proporcionar. Tranquilo, o conforto a bordo, em turnos de condução que chegaram a ser de mais de três horas, nunca foi um problema e claramente um ponto muito positivo.

O carregador interno de 11 kW merece uma nota positiva, pois ajudou imenso nos diversos carregamentos como relatado anteriormente. Atualmente não se justifica serem lançados no mercado novos modelos com capacidades inferiores de carregamento.

Qualidade de construção é excelente, a BMW não falha. Mesmo a velocidades elevadas não se ouve o vento ou qualquer barulho. Os modos de condução, que predefinem várias definições do veículo, com limitação de velocidade regulável, facilitam muito a gestão de energia. É preciso ser muito descuidado para ficarmos sem energia na bateria, para um destino que esteja determinado.

Quanto à autonomia, esta nova versão do i3 chegou provavelmente ao máximo daquilo que este tipo de veículo necessita. Com uma rede funcional e capilar, que todos os dias se torna mais perto da realidade, este i3 chega a todo o lado. Adicionar maior autonomia, e consequentemente mais peso para transportar todos os dias, naquilo que é 90% da sua normal utilização, não parece, nesta altura, fazer muito sentido.

Irritações! Quem não as tem? No caso do i3, naturalmente também existem. Um problema, que seguramente já provocou alguns dissabores aos proprietários i3, é a interrupção do carregamento, quando o carro está a carregar a 11 kW e abrimos uma das portas. Ao contrário do que acontece se estivermos a utilizar o carregador ocasional, que acompanha o carro. Ou seja, pomos o carro a carregar, fechamos, esquecemo-nos de algo lá dentro, abrimos e… ou nos lembramos e retiramos a ficha e recolocamos, ou então ficamos sem o carro carregado.

Os menus: esta lá tudo e funciona, mas onde? Eu sei que o carro faz isto, mas onde está essa opção? Vários VE têm menus muito complexos, mas não é esse o erro do i3, uma tradução mais cuidada dos tópicos dos menus resolviam o problema.

A nota final só pode ser muito positiva, e não é fácil passar num exame tão exigente, uma viagem de 2.600 km, muito longe da zona de conforto do i3.

Como conclusão final a palavra só pode ser “mudança”, a mobilidade elétrica não é amanhã é hoje, é presente. Dificilmente melhor exemplo se conseguirá encontrar do que esta viagem com este VE, ou melhor com estes veículos elétricos 100% elétricos.

Esta viagem teve o apoio da BMW Portugal, que cedeu os três BMW i3, dois normais e um i3S e forneceu os passes de acesso ao paddock e ao próprio António Félix da Costa, com o qual tivemos 30 minutos exclusivos.

Todas as despesas de alojamento e alimentação dos participantes foram suportadas pelos próprios.

Claro que é possível, como ficou demostrado.

Saudações Elétricas, de preferência renováveis.

Dados da viagem