Entrevista de Henrique Sánchez à EVA Global – E-Mobility Makers

Entrevista concedida por Henrique Sánchez, Presidente da UVE, à EVA Global. Com origem na Finlândia, a EVA Global, tem como missão criar uma relação de confiança entre o desenvolvimento de tecnologia para a Mobilidade Elétrica e os seus utilizadores, de forma a acelerar a transição para uma energia mais limpa. As entrevistas E-Mobility Makers, que têm sido publicadas no LinkedIn, foram realizadas a vários interlocutores com presença relevante na transição para a eletrificação dos transportes, entre os quais, Presidentes de Associações de Utilizadores de Veículos Elétricos ou de outras Entidades relevantes na divulgação e promoção da Mobilidade Elétrica.

(tradução da entrevista original em inglês)



Pode contar-nos um pouco sobre si e sobre como começou o seu percurso em mobilidade elétrica?

No início dos anos 90 comecei a preocupar-me cada vez mais com o meio ambiente, a poluição do ar e o uso dos recursos limitados do planeta. Comecei então uma jornada determinada em desafiar o status quo através do desenvolvimento sustentável dos nossos sistemas de transporte, que acredito ser uma das maiores ferramentas à nossa disposição para o progredir para sociedades mais limpas, além de desempenhar um grande papel no despertar de uma consciência comum de cuidado do nosso ambiente natural. Comprei o meu primeiro veículo elétrico em 2011, um Nissan Leaf com bateria de 24 kWh. Desde então, só conduzo veículos elétricos.

Como surgiu a UVE “Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos”?

Os primeiros adeptos dos veículos elétricos em Portugal (automóveis e motociclos) começaram a organizar eventos regulares em 2008 (motociclos) e 2011 (automóveis elétricos). Sentimos a necessidade de organizarmos esses eventos de forma a interagir com os governantes (locais, regionais e nacionais), bem como com os fabricantes de carros e motas elétricas e os construtores de carregadores elétricos. Numa frase, a UVE foi construída do zero, com todo o sistema de mobilidade elétrica em mente. Procurou sempre incluir todas as partes interessadas no movimento da mobilidade elétrica.
Após o nosso 3º Encontro Nacional de Veículos Elétricos em 2015, com a participação de 199 utilizadores de veículos elétricos, decidimos constituir a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos, no dia 6 de dezembro de 2015.

Encontro Nacional de Veículos Elétricos – ENVE 2021 – Figueira da Foz (Portugal), 5 e 6 de junho de 2021


Pode dizer-nos sobre o papel e o impacto do UVE no espaço de mobilidade elétrica?

É diferente quando se atua como uma organização com presença legal, com eleições para os Orgãos Sociais da associação e com membros que decidem em Assembleia Geral o que fazer, como e quando nos relacionamos com todos os demais stakeholders. Não somos apenas pessoas que “almoçam juntas” e interagem apenas dentro da nossa “bolha elétrica”. 

Quem são os membros da UVE hoje e quem falta para torná-la mais forte?

Originalmente, éramos 20 fundadores. Agora somos mais de 740 associados, 13 dirigentes, 60 voluntários e 1 funcionário a tempo inteiro (todos nós, incluindo os dirigentes, somos voluntários). Temos uma pequena sede num espaço de coworking. Mas já organizámos dezenas de eventos em todo o país. Quem falta para tornar a UVE mais forte? A nossa resposta é, VOCÊ! Todos são necessários para divulgar as vantagens da mobilidade elétrica! 

Como funcionam as parcerias UVE para impulsionar o movimento da mobilidade elétrica em Portugal?

Na UVE temos diferentes parcerias com fabricantes de veículos elétricos e carregadores elétricos, com as empresas comerciais que vendem os veículos (carros, carrinhas, motas, bicicletas, etc.), os equipamentos de carregamento (carregadores de parede, carregadores AC/DC, sistemas de software, etc.), bem como com CEME que oferecem descontos aos nossos membros.

Conte-nos sobre o progresso de Portugal no desenvolvimento da mobilidade elétrica no país e quais as ações necessárias para continuar esse progresso?

Portugal lançou em 2010 a primeira Rede Pública de Carregamento de Veículos Elétricos, com cerca de 1.000 carregadores AC de 3,7 kW. Nesse mesmo ano, uma empresa privada lançou 5 carregadores rápidos de 50 kW.
Hoje, temos agora mais de 4.500 carregadores AC, a maioria dos quais de 22 kW e mais de 850 carregadores rápidos, super e ultrarrápidos. Temos também os primeiros 2 HUBs públicos para carregar 12 veículos elétricos simultaneamente. No entanto, não é suficiente, há uma grande necessidade de mais ação política que incentive benefícios fiscais e descontos na compra de um VE, e discriminação positiva no estacionamento, portagens, etc., para incentivar cada vez mais pessoas a comprar veículos elétricos. 

Qual é o impacto da pandemia na mobilidade em geral, bem como no movimento da mobilidade elétrica em particular, em Portugal?

Bem, a pandemia teve um impacto muito forte na economia e na sociedade em geral, mas também mostrou a todos as mudanças que podem ser alcançadas em zonas urbanas e grandes cidades sem poluição do ar e sonora. As cores eram mais vivas, ouvíamos o canto dos pássaros, muitos animais selvagens se aventuravam em áreas que antes eram ocupadas pelo homem… Aqui em Lisboa, vimos até golfinhos a nadar no rio Tejo. Todos nós pudemos confirmar por nós próprios o que normalmente ouvimos em diferentes seminários, debates ou diferentes tipos de palestras. “Uma imagem vale mais que mil palavras”.

“Não temos muito tempo, mas ainda dá tempo. Vamos fazê-lo!”

Henrique Sánchez, Presidente da UVE

Na sua opinião, quais os maiores desafios a superar para progredirmos na mobilidade em toda a Europa?

As políticas europeias devem garantir mais benefícios fiscais, redes públicas de carregamento de veículos elétricos mais alargadas e mais rápidas. Essencialmente, mais carregadores, mais potência e estações de carregamento múltiplo são o que é necessário em toda a Europa. Portanto, a nível europeu, precisamos de ver legislação que penalize claramente aqueles que são poluentes, a fim de ajudar a financiar o aumento rápido da eletrificação de todos os tipos de transporte e da descarbonização de toda a economia. 

O que acredita que os consumidores mais desejam que seja desenvolvido no mercado de mobilidade elétrica nos próximos 10 anos?

As pessoas precisam de uma seleção mais ampla de veículos elétricos, de todo o tipo de veículos elétricos. VEs mais baratos que permitam a um público mais amplo o acesso a opções sustentáveis. Não menos importante, uma seleção mais ampla de transporte público elétrico. Portugal não só precisa de mais carros elétricos, mas também de motos elétricas, bicicletas elétricas e zonas urbanas exclusivas para circulação de veículos elétricos; acelerando a maneira como nos movemos de um lugar para o outro. De barcos elétricos a aviões… O motor elétrico deve substituir todos os motores de combustão interna que usam combustíveis fósseis agora, não amanhã!

Que “tendências” vê a acontecer no ecossistema de mobilidade elétrica português neste momento?

As vendas de veículos elétricos estão a aumentar muito e vemos cada vez mais veículos 100% elétricos. Embora a rede pública de carregamento tenha que se expandir a uma velocidade enorme, as frotas das empresas têm vindo a ser eletrificadas.
Paz e sossego têm sido restaurados nos centros históricos de nossas cidades. Esses lugares estão a tornar-se mais agradáveis ​​para as pessoas que os habitam. 

Na sua opinião, como podem os diferentes atores (indústria, governos, etc.) trabalhar em conjunto para promover ainda mais a adopção de VEs em Portugal?

Não há outro caminho. Ou trabalhamos juntos para atingir essas metas ou não haverá nenhum progresso positivo para a indústria, o governo ou para os cidadãos. O único caminho a seguir é através da cooperação entre todos. 

Por último, pode dizer-nos onde espera que Portugal esteja na “rota para a mobilidade elétrica” em 2025?

Eu realmente acredito que estamos num caminho positivo para a mudança, mas esta deve ser mais ampla e rápida. Honestamente, não temos muito tempo para fazer as coisas. Precisamos de eletrificar todas as frotas de funcionários estatais a nível local, regional e nacional. Isso servirá de exemplo para as empresas privadas.
Não temos muito tempo, mas ainda dá tempo. Vamos fazê-lo!