e-Viagem: Experiência do utilizador Marcos Lopes (entrevista)

Marcos Lopes é pioneiro na mobilidade elétrica e proprietário de vários VEs.


Marcos Lopes

Marcos Lopes é um dos Associados Fundadores e um dos dirigentes da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.


Vectrix 1ª geração

Eu não sou um típico utilizador, pois comecei a usar a mota eléctrica em 2008, por motivos económicos e ecológicos. O tema da sustentabilidade sempre me interessou e já há alguns anos que acompanhava as aventuras da Vectrix (a marca das minhas motas eléctricas) e depois também da Tesla (no caso dos carros).

Vectrix 2ª geração

Quando a Vectrix chegou a Portugal, estudei imenso a possibilidade de ter uma e comprei-a. Em 2011 e passados 52 mil quilómetros vendi-a para comprar uma igual mas com mais capacidade de autonomia, e que ainda hoje anda comigo.


Nissan Leaf

Em 2013, a minha mulher grávida e a trabalhar em Lisboa, ia e vinha de mota comigo todos os dias. Nessa altura optei por comprar o carro eléctrico. Comecei por um Nissan Leaf de primeira geração. Passados 2 anos decidimos comprar outro carro que satisfizesse todas as necessidades e nos permitisse ir a todo lado, independentemente de haver ou não electricidade para onde nos deslocávamos.


BMW i3 Rex

Analisei e decidimos comprar um BMW i3 Rex (com extensor de autonomia), com 150 quilómetros de autonomia eléctrica, à qual se adiciona um gerador a gasolina de 600 cc que permite carregar a bateria em andamento e aumentar a autonomia para mais do dobro.


Tesla Model X

Em 2018 realizei o sonho de comprar um Tesla. A família cresceu e com a necessidade de transportar os avós pelo país decidimos adquirir o modelo X de 7 lugares.

Entrevista como utilizador de Veículo Elétrico

 

1) Quando decidiu comprar um carro elétrico?

Foi em 2013 aquando da primeira gravidez da minha mulher, no caso do carro, e em 2008 quando surgiu a Vectrix em Portugal.

 

2) Como foram os primeiros tempos, foi difícil habituar-se?

Não creio. Já lá vão 10 anos, mas lembro-me que o que mais me custou foi mudar de uma mota desportiva para uma maxiscooter, pois a posição de condução é diferente, de resto, é igual, mas sem deslocações para abastecer. No caso do carro, não custou mesmo nada. Por um lado, é um carro como muitos outros. Apenas não tem mudanças para meter, nem gasolina para abastecer. Por outro lado, já estava mais que habituado, pois já tinha motas eléctricas há 5 anos e o hábito de ter o “combustível” a entrar enquanto durmo ou trabalho já cá estava enraizado.

 

3) Quais as curiosidades ou situações particulares que sentiu na transição para mobilidade elétrica?

As curiosidades e situações são muitas. Há sempre a admiração das outras pessoas que chegam até a colocar-se à nossa frente para pedir uns minutos de atenção que satisfaçam a suas perguntas. Depois tive vários problemas nas motas quando a Mobilidade Eléctrica estava no início, como fundir um fusível a meio caminho ou mesmo necessitar de novas baterias por avaria de software e ter que ver a mota ser rebocada. Agora com o avanço da tecnologia nada disto é assim. As pessoas continuam a atirar-se para a frente dos veículos e a pedir para pararmos e conversarmos com elas, mas os veículos são muito mais fiáveis e as oficinas já estão preparadas para eles. Lembro-me de no início, antes de haver postos públicos, pedir carregamento nos restaurantes, hotéis, juntas de freguesia, bancos, bombeiros, polícia, bombas de gasolina, etc. para carregar o veículo. Nunca tive uma recusa. Era sempre tema de conversa. Tinha sempre companhia. Fazer viagens pelo país era uma aventura. Havia sempre uma solução. Tenho uma foto muito gira, com alguns 10 anos, em que estou a carregar a mota numa tomada junto a uma arca frigorífica de uma área de serviço, outros tempos…

 

4) O que mais gosta na experiência de conduzir um Veículo Elétrico?

Ao início, gostava de tudo. A novidade, a tecnologia, o facto de deixar de ter de me deslocar para abastecer, do facto de praticamente gastar cêntimos a cada viagem, da admiração das pessoas que me viam passar, dos arranques nos semáforos a deixar todos os outros veículos para trás… Uma das coisas mais importantes para mim é a usabilidade da minha garagem. Venho de uma família com problemas respiratórios que herdei e que não quero passar para os meus filhos. Ter a garagem sem óleos e fumos é extraordinário. A garagem passou a ser uma divisão da casa… Mas neste momento, a experiência é luxuosa. O Tesla tem outras vantagens.

 

5) Quanto tempo demoram a fazer o trajecto casa-trabalho?

Na moto levo cerca de 25 minutos. De carro, depende da hora a que sair. O ideal é chegar a Lisboa antes da Ponte 25 de Abril ficar congestionada. Eu prefiro sair antes das 7 da manhã se conduzir o carro. De mota tenho a liberdade de poder sair até às 8:30 da manhã. De automóvel demoro cerca de 30 a 40 minutos se não me atrasar a sair. Com muito trânsito posso demorar mais de uma hora. Coisa que evito com muita vontade.

 

6) Qual o custo diário/mensal destinado à mobilidade elétrica?

Nem dou por ele… Eu abasteço durante a noite em “bi-horário”. Na prática são uns 80 a 90 cêntimos a cada 100 quilómetros na mota, 1.50€ aos 100 km no BMW i3 e 2€ aos 100 km no Tesla Model X.

 

7) Quais as diferenças na mobilidade antes de ter um elétrico (custos e tempo)?

Em termos de tempo era praticamente igual. Apenas deixei de gastar o tempo de ir à bomba abastecer. De resto, é o mesmo percurso de garagem a garagem. Já para as viagens grandes, o Tesla eliminou as diferenças, e o BMW i3 atenuou-as. No caso do Nissan Leaf, as viagens tinham de ser bem planeadas com paragens para abastecer normalmente próximas dos momentos de refeição e caso fosse necessário, dormida a meio caminho, pois antigamente não haviam carregadores rápidos como há agora.

Em termos de custos, a diferença é abismal. Eu gastava 10 vezes mais só em combustível. Mas o pior era chegar à altura das revisões ou da troca de peças móveis com desgaste. Era preciso reservar algum dinheiro, porque de vez em quando lá havia uma surpresa na manutenção. Enfim. Tempos passados.

 

8) Quais as principais razões/motivos que levam a esta opção?

Ao início, eram razões económicas e ecológicas. Neste momento, além destas, também o conforto, a tecnologia, as prestações avassaladoras quando comparadas com seus semelhantes poluidores…

 

9) Onde costuma carregar o seu veículo?

No dia-a-dia é carregado em casa ou em centros comerciais de vez em quando. Nos carregadores rápidos e nos hotéis quando vamos em viagem. No caso do Tesla usamos os Superchargers que são exclusivos para os veículos elétricos da marca.

 

10) Usa o VE em que todas as deslocações ou só algumas?

Uso sempre. A mota para o dia-a-dia quando o tempo não está muito mau. O Tesla para as viagens grandes e quando o tempo não está para andar de mota. E o BMW i3 usa a minha mulher no seu dia-a-dia.

 

11) Perde algumas horas para carregar o veículo que não perderia com carro a combustão?

No dia-a-dia não. E mesmo nas viagens, o Tesla já faz muitos quilómetros com uma carga e, e com a disponibilidade geográfica dos Superchargers, o tempo de carregamento passa num instante. Basta esticar as pernas ir à casa de banho ou tomar um café e o carro está pronto. No meu caso, muitas das vezes tenho de parar mais tempo que o necessário para o abastecimento, devido às necessidades normais de uma família com filhos em viagem.

 

12) Tenciona mudar este modelo de mobilidade num futuro próximo?
Nem pensar.

 

13) Como se pode melhorar o modelo e em que vertentes?

No caso dos carros elétricos não Tesla, creio que a maior falta são os postos de carregamento. A melhor forma de o fazer é terminar esta fase de rede piloto e começar a cobrança da energia, de preferência com um valor justo e sem as taxas e taxinhas que foram adaptadas às contas das habitações e não se justificam numa rede de carregamento de veículos.

 

14) Que percentagem de mobilidade elétrica usa no seu dia a dia no total de um mês?
100%.

 

15) Recomendaria a amigos a utilização de VE, mesmo sem garagem?

Para quem não tem garagem recomendaria um carro eléctrico com extensor de autonomia, como o meu BMW i3 Rex, ou um PHEV (carro híbrido plug-in). Acho que o veneno do diesel nos carros está moribundo e é um péssimo investimento.

 

16) O aumento de carros elétricos torna mais difícil o uso do carregamento?
Se a rede de carregamento não cresce ao mesmo ritmo que as vendas, claro que sim. Espero que venham boas notícias em breve e esta frase deixe de fazer sentido.

 

17) Quantos quilómetros já percorreu em modo elétrico?

Ao longo destes anos viajámos em vários veículos contabilizando mais de 265 mil quilómetros feitos com energia eléctrica.