e-Viagem: A importância da rede de carregamento para veículos elétricos

Inauguração dos postos de carregamento rápido no corredor “Lisboa – Algarve” a bordo de um BMW i3


Celestino Araújo

Celestino Araújo é um dos Associados Fundadores e um dos dirigentes da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.


No dia 8 de agosto de 2016, foi inaugurado o corredor de postos de carregamento rápido (PCR) Lisboa – Algarve. Enquadrado na cerimónia de inauguração, fui fazer o teste desse corredor com um BMW i3 (de primeira geração), amavelmente cedido pela BMW para o efeito.

Como a cerimónia tinha início logo na manhã de uma segunda-feira à primeira hora, tive que fazer o levantamento da viatura na sexta-feira anterior. Fui de Aveiro até Lisboa no meu Nissan Leaf (também de primeira geração). Apesar de ser um percurso de cerca 300km e de o meu Nissan Leaf ser um modelo já desatualizado face aos que se encontram atualmente no mercado (fabricado em 2011 e já com mais de 100.000km percorridos), é um trajeto possível de ser realizado sem complicações graças aos PCR existentes no percurso.

Para além dos PCR da Galp existentes em funcionamento nas áreas de serviço de Pombal e de Aveiras, tinha também à disposição (o que desde já agradeço) o PCR do concessionário Nissan de Leiria (Auto Júlio). Não havendo necessidade de utilizar os 3 PCR referidos, fiz apenas 2 carregamentos até 80% (cerca de 20 minutos em cada um) em Leiria e em Aveiras.

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Depois de uma pequena sessão de explicação acerca do funcionamento do BMW i3, fiz o seu levantamento nas instalações da BMW no Lagoas Park e deixei lá ficar o meu Nissan Leaf por volta das 15h00m. O percurso de regresso a Aveiro foi ligeiramente diferente, tendo efetuado carregamentos rápidos em Aveiras e em Pombal.

Os carregamentos rápidos após os 80% de carga, são significativamente mais lentos. Por isso, a grande subida da serra de Aire e Candeeiros na A1, bem como a falta de experiência em conduzir concretamente um BMW i3, fizeram com que, por precaução, o carregamento em Aveiras fosse mais demorado (cerca de 50 minutos) de modo a garantir que não teria problemas de maior a chegar a Pombal.

A partir de Pombal, já tinha adquirido confiança e conhecimento da máquina que tinha nas mãos o que, junto com a experiência de mais de 100.000km em carro elétrico e um percurso mais favorável, permitiu um aumento da velocidade média e a chegada a casa por volta das 19h30m sem quaisquer problemas.

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Infelizmente, por motivos de ocupação pessoal, não tive tempo de experimentar convenientemente a máquina, nem de fazer alguns testes específicos que tinha em mente durante o fim de semana.

O facto de ter ficado sem o meu velhinho Nissan Leaf nesse período, obrigou-me a fazer uma deslocação de Aveiro a Vila do Conde num carro a gasóleo, o que já não ocorria desde que tenho um veículo elétrico em casa (2013). E tal não ocorreu pelo facto do BMW não ser um veículo excelente, mas simplesmente por ainda não existir no Norte um PCR que satisfaça a norma de carregamento rápido do BMW (CCS Combo). Situação perfeitamente pacífica para um Nissan Leaf, graças à amabilidade da Caetano Power no Porto que tem disponibilizado um PCR (com a norma CHAdeMO) e que demonstra a extrema necessidade deste tipo de equipamentos distribuídos pelo território com disponibilidade para todas as normas de carregamento.

Um posto de carregamento lento (7,4kW) na zona das Caxinas em Vila do Conde, também teria permitido realizar aquela viagem, mas esses equipamentos também ainda não existem naquele município.

Posto isto, e chegado o dia da inauguração dos PCR que fazem o corredor Lisboa – Algarve, pus-me a caminho bem cedo desde Aveiro até à área de serviço da Galp na A2 em Palmela. A viagem foi feita sempre entre os 100km/h e os 120km/h (variando em função de uma gestão que permitisse chegar ao próximo PCR consultando os dados da instrumentação ao dispor na viatura), tendo os carregamentos sido feitos apenas até pouco mais de 80% da capacidade da bateria.

Pouco passava das nove da manhã, já se encontrava quase completa a comitiva de veículos elétricos em representação da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos que participou no evento.

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Ao mesmo tempo e junto ao novo PCR, preparavam-se as viaturas elétricas destinadas à comitiva das outras entidades oficiais, as quais saíram em direção à área de serviço da Galp na A2 em Aljustrel pelas 09h30m.

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Iniciei a viagem na comitiva da UVE uns 10 ou 15 minutos depois e com o mesmo destino. A viagem não foi diferente do que já vinha habituado a fazer desde Aveiro, sempre a cumprir os limites de velocidade.

Como partimos mais atrasados, já não tive tempo de assistir a toda a cerimónia e discursos na inauguração. Enquanto ali estávamos, os veículos elétricos faziam os seus carregamentos.

Os PCR da rede Mobi.E instalados no terreno possuem a possibilidade de carregamento rápido em corrente contínua até 50kW nas normas “CHAdeMO” e “CCS Combo”, bem como carregamentos em corrente alternada até 43kW, satisfazendo assim a totalidade dos veículos elétricos com carga rápida existentes no mercado. É também possível utilizar uma das tomadas de corrente contínua em simultâneo com a tomada de corrente alternada.

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Terminada a cerimónia, partimos em direção a Loulé um pouco antes das 13h30m.

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Chegado a Loulé junto com a comitiva fui almoçar e participar nas atividades do evento.

Com a cerimónia de inauguração e com algum congestionamento derivado da grande quantidade de veículos elétricos que nela participaram, a viagem para sul foi demorada. Estava também um calor infernal.

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A viagem de regresso iniciou já depois das 17h. O ritmo na estrada foi equivalente, mas sem tanto congestionamento nos postos de carregamento. Apenas uma hora de atraso face a uma viagem normal por ter que esperar que outros veículos abastecessem. Parei em Aljustrel e em Alcácer do Sal para carregar e depois do jantar pernoitei em Lisboa, onde entreguei o BMW no dia seguinte assim:

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Destes 1.229km percorridos na viatura, mais de 750 foram apenas percorridos no dia 8 de agosto.

Depois foi só fazer o regresso até Aveiro, mas desta feita já no meu Nissan Leaf. Fiz o percurso pela estrada nacional até Leiria onde fiz um carregamento lento, tendo depois seguido via A17 até Aveiro. Como tinha um compromisso em Leiria, o carro carregou e esperou por mim enquanto estive ocupado.

O BMW i3 comportou-se muito bem e estava demonstrada a viabilidade dos postos de carregamento e dos veículos elétricos para esse trajeto. Antes era quase impossível ir ao Algarve nestes veículos, sendo os percursos que ligam a região de Lisboa ao Algarve um autêntico deserto de postos de carregamento. O facto de ter percorrido mais de 750km num só dia vem provar que com uma rede de PCR bem distribuída e operacional é possível realizar qualquer viagem, e por consequência, demonstrar a enorme necessidade destes equipamentos. Apesar de terem participado gamas de veículos mais recentes/atuais neste evento, uma grande parte dos participantes ainda eram veículos de primeira geração, como este BMW i3 que experimentei. Convém salientar por isso, que neste momento, o BMW i3 já se encontra no mercado com uma nova bateria de mais capacidade e portanto, este percurso já pode ser efetuado com menos paragens e/ou com mais velocidade.

Mais fotografias do evento: https://www.facebook.com/uve.pt/

(Artigo escrito por Celestino Araújo)