Alterações Climáticas – O que é que cada um de nós pode fazer? Muito e já!

Diariamente todos temos sido inundados de notícias sobre as alterações climáticas: incêndios gigantescos, inundações destruidoras, secas, chuvas torrenciais, degelo dos glaciares, acidez dos oceanos, ilhas de plástico, níveis altíssimos de poluição atmosférica, etc.

Ouvimos, lemos, vemos, e parece que já nos entrou no quotidiano das nossas vidas.

Incêndios incontroláveis no Canadá e nos Estados Unidos com pequenas cidades destruídas e eliminadas dos mapas, com incêndios gigantescos na Sibéria, na Amazónia, na Austrália e na Argélia, além daqueles que anualmente já nos parecem “normais” no sul da Europa. Já parámos para pensar que não é só o CO2 libertado por esses gigantescos incêndios, são os milhões, sim milhões de hectares de florestas que deixaram de existir e que no futuro não estarão lá estes milhões e milhões de árvores para absorverem o CO2 que até agora absorviam?

Estamos a ser cozinhados em lume brando, passivos e tranquilos.

Incêndios na Turquia (foto EFE) e Incêndios na Grécia (foto Reuters)


Incêndios na Califórnia e na Sibéria.


Hoje já todos sabemos que a Terra é redonda e que vivemos num ecossistema fechado e finito. A Humanidade vive numa espécie de nave espacial, a que chamamos Terra, e todos somos viajantes da mesma “nave espacial”, não há forma de sair, de mudarmos de casa.

Provavelmente, nos próximos anos a Humanidade conseguirá instalar algumas colónias de Humanos na Lua ou em Marte, serão algumas centenas de seres humanos, só isso, ponto. Somos atualmente 7.890.000.000 de seres humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) acaba de divulgar a primeira parte do 6.º Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change) que é muito mais do que um alerta para toda a Humanidade. É o resultado de estudos científicos de centenas de cientistas, investigadores e meteorologistas, fruto de dezenas de anos de estudos, e, provavelmente, o último aviso da comunidade científica mundial sobre os efeitos das emissões de gases de efeito de estufa e das consequentes alterações climáticas que estarão a iniciar um período irreversível de destruição das condições de vida da Humanidade no planeta Terra.

O próximo aviso poderá vir já tarde demais para todos nós.

Este Relatório do IPCC (utilizo a sigla em inglês por ser a mais divulgada) é tornado público três meses antes da realização da COP 26, a Conferência das Partes (Conference Of Parts – COP) que se realizará em Glasgow entre os próximos dias 1 e 12 de novembro. Esta será muito provavelmente a última oportunidade dos governantes e líderes mundiais, tomarem consciência da gravidade da situação, e de acordo com as previsões da comunidade científica internacional adotarem – sem mais hesitações –, medidas comuns e globais que possam mitigar os efeitos das alterações climáticas e preparar a Humanidade para a forma como teremos que viver num futuro que se afigura cada vez mais próximo. As conclusões deste Relatório do IPCC apontam para alterações nunca detetadas pela comunidade científica, comprovadamente provocadas pela ação das atividades humanas, e que demorarão centenas ou mesmo milhares de anos a poderem ser revertidas, algumas muito provavelmente já serão praticamente irreversíveis, como por exemplo a subida do nível dos mares.

O que nos espera?

  • O ciclo da água será fortemente afetado pelas alterações climáticas, com chuvas intensas e muito concentradas no tempo com as consequentes cheias devastadoras e secas muito prolongadas em diferentes regiões, conforme a latitude, mais chuva nas latitudes mais altas e mais seca nas regiões sub-tropicais;
  • O aquecimento global est á a provocar a aceleração do degelo do permafrost, mais intenso em regiões do círculo polar ártico, a perda de gelo dos glaciares das grandes cadeias montanhosas de todo o Mundo, sem a respetiva reposição sazonal das calotes geladas, e o degelo dos grandes mantos de gelo, especialmente da Gronelândia, mas também da Antártida;
  • O aquecimento dos mares, a sua acidificação, a redução dos seus níveis de oxigénio, são eventos claramente apontados à atividade dos humanos. Estas alterações nos oceanos estão a afetar os respetivos ecossistemas marinhos e todas as populações que vivem diretamente do que os oceanos lhes proporcionam;
  • Não faltará muito para que a existência do plástico nos mares se sobreponha à população dos animais marinhos. Uma das ilhas de plástico no Oceano Pacífico já ocupa a área equivalente à da Alemanha, França e Espanha em conjunto;
  • Nas cidades muito do já referido será amplificado, pela impermeabilização dos terrenos, pela prevalência do betão e do asfalto em detrimento das árvores, dos arbustos e de terra, provocando temperaturas muito mais elevadas nas áreas urbanas.
  • O aumento significativo das emissões de metano com efeitos muito mais terríveis que as emissões de CO2.

Cheias na Alemanha e chuvas de granizo em Itália.


Degelo do permafrost na Rússia e nos Estados Unidos da América.


Ilha de plástico do Pacífico e degelo no Ártico.


Estamos condenados?

Existe ainda uma pequena, mas é mesmo pequena, muito pequena, janela de oportunidade de inverter a situação catastrófica para a qual nos dirigimos a uma velocidade cada vez maior, ou no mínimo podermos abrandar o ritmo de destruição das condições de vida para os Humanos no planeta Terra e dar-nos tempo para nos adaptarmos à nova situação e às novas condições climatéricas que nos esperam, conforme também já nos alertou David Attenborough num dos seus últimos e dramáticos apelos, no documentário, “A Life On Our planet”.

Imprescindível também o documentário “Before the Flood” da National Geographic, produzido por Leonardo Di Caprio. Existem muitos outros documentários, no entanto, estes dois aqui referidos serão suficientes para tomarmos consciência da gravidade da situação que afetará irreversivelmente as gerações que já nasceram, portanto muitos de nós (os que não morrerem antes), os nossos filhos e os nossos netos.

Já ultrapassámos o ponto do não retorno, já não é possível evitar enormes e drásticas mudanças na forma como utilizamos os recursos naturais, na forma como consumimos e produzimos a nossa alimentação, equipamentos e bens diversos, como nos divertimos ou nos movimentamos de um lugar para outro. Urge mudar o modelo de desenvolvimento baseado nos combustíveis fósseis, urge parar a utilização dos combustíveis fósseis.

A União Europeia, no passado mês de julho, lançou o Pacto Climático (Green Deal), anunciado em dezembro de 2019, aprovado pelo Parlamento Europeu em janeiro de 2020, e que pretende atingir a neutralidade carbónica em 2050, sendo que para tal tem como objetivo a redução em 55% das emissões de gases com efeito de estufa em 2030 em relação às emissões de 1990.

De um enorme conjunto de medidas que terá um impacto direto na indústria automóvel, no transporte aéreo e marítimo, na produção alimentar, na preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, na produção de energia, uma, tem um impacto direto no mundo automóvel: a proibição da venda de veículos com motores de combustão interna, incluídos os com motores a gasolina, a gasóleo e os híbridos plug-in, a partir de 2035 em todo o espaço da União Europeia.Alguns países na União Europeia e na restante Europa já anunciaram datas limite para a proibição da venda de veículos com motores de combustão interna anteriores, são o caso da Noruega (2025), Islândia, Suécia, Holanda e Irlanda (2030).

O que é que cada um de nós pode fazer? Muito e já!

Pensar Global, Agir Local!

Não me focarei nas grandes alterações ao nível da alimentação (consumir menos carne, consumir produtos locais), do consumo de bens (Reduzir, Reutilizar, Reciclar), na redução das deslocações aéreas ou marítimas em aviões ou barcos com motores que utilizem combustíveis fósseis, na redução da utilização de plásticos, no aumento da eficiência energética das nossas casas com a respetiva redução do consumo de eletricidade, na produção local e renovável de eletricidade, etc.

Vou focar-me nos veículos que utilizamos para nos deslocarmos no dia-a-dia ou em viagens grandes ou pequenas.

  • Privilegiar o andar a pé, a utilização dos modos de mobilidade suave, bicicleta, trotinete, etc;
  • Privilegiar os transportes elétricos, o comboio, o metro, o autocarro, o elétrico tradicional, o automóvel, o motociclo, o ciclomotor, a bicicleta, etc;
  • Privilegiar os transportes públicos, de preferência elétricos e quando tal seja possível;
  • Utilizar no transporte particular, veículos exclusivamente elétricos;
  • Reduzir, se possível parar, o consumo de combustíveis fósseis.
  • Não consumir bens e serviços fúteis.

Claro que nem tudo é possível, e menos ainda no imediato, mas isto é o que deverá ser feito por todos para ainda irmos a tempo de evitar a catástrofe que se avizinha para toda a Humanidade.

O modelo de desenvolvimento tem que deixar de estar assente nos combustíveis fósseis e passar a ser um modelo de desenvolvimento baseado nas energias renováveis. Para um país como Portugal é perfeitamente possível produzir toda a energia necessária à sua economia (das pessoas e das empresas) através do recurso às energias renováveis: a hídrica, a eólica, a geotérmica (nos Açores) e, principalmente, a fotovoltaica que está muito pouco desenvolvida em Portugal, privilegiando a produção local. Portugal já hoje atinge níveis de produção de eletricidade de fontes renováveis de 70% e podemos fazer mais, podemos e devemos, sem perda de tempo.

Os veículos elétricos servirão como armazém dessa eletricidade e permitirão uma melhor gestão da rede de distribuição de eletricidade em Portugal, pois poderão armazenar a eletricidade produzida pelas eólicas durante a noite, enquanto carregam, quando o seu consumo é muito reduzido, permitindo a sua utilização durante o dia.

Esta é a mensagem final: todos podemos, devemos, temos, que fazer algo.

Porque não trocar o seu veículo com motor de combustão interna por um veículo elétrico?

Os seus filhos agradecerão.

Não existe Planeta B!

Henrique Sánchez.
Setembro 2021