Furto e Vandalismo em Postos de Carregamento: Um Risco Real para a Mobilidade Elétrica

Artigo da UVE – Associação de utilizadores de Veículos Elétricos, publicado na edição nº 96 da revista Blueauto de outubro de 2025, sobre os casos de furto e vandalismo em Postos de Carregamento registados em Portugal desde abril deste ano.

A UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos – lançou recentemente um alerta sério sobre o aumento de furtos e atos de vandalismo que têm vindo a atingir a rede pública de carregamento de veículos elétricos (VE) em várias regiões do país.

Nos últimos meses, o roubo de cabos de carregamento em postos rápidos e ultrarrápidos, tornou-se uma ocorrência preocupante, com impacto direto sobre a confiança dos utilizadores, os custos de operação dos operadores e, em última instância, o próprio ritmo da transição energética em Portugal.

De acordo com os dados do Ponto de Acesso Nacional (PAN), em 30 de setembro de 2025 existiam em Portugal 2.630 Postos de Carregamento de Veículos Elétricos (PCVE) rápidos e ultrarrápidos, representando mais de 6.100 cabos de carregamento distribuídos por 245 municípios, que cobrem cerca de 80% do território nacional.

Desde agosto de 2025, o número de cabos furtados tem crescido de forma acentuada. Apenas entre as semanas 35 e 40 (final de agosto a início de outubro), registaram-se mais de 450 incidentes, com destaque para os distritos de Lisboa, Santarém, Leiria, Setúbal e Évora.

Ao todo, desde abril, foram afetados 327 postos de carregamento e furtados 720 cabos — o equivalente a 10,3% da rede pública rápida e ultrarrápida da rede de postos de carga rápida e ultrarrápida atualmente instalada em Portugal, com dados publicados no PAN. Estes equipamentos, em condições normais de funcionamento registavam mais de 12.000 horas de utilização, por mês, por parte dos utilizadores (fonte: Observatório da Mobilidade Elétrica (observatorio.uve.pt)). Estes números dão uma ideia muito concreta da dimensão, urgência de reposição do serviço e a severidade desta situação ao nível das consequências para o Utilizador. Em alguns casos, como no município do Bombarral, houve reincidência após a reparação dos equipamentos, com a taxa de impacto a ultrapassar os 100%.

Os prejuízos acumulados são expressivos: estima-se que a indisponibilidade dos postos represente mais de um milhão de euros em perdas mensais para os operadores, sem contar os custos de substituição de cabos, deslocações técnicas e logística de restabelecimento do serviço.

Além do impacto financeiro direto, há um efeito secundário igualmente preocupante: o risco de desincentivo ao investimento privado em novas infraestruturas de carregamento. A insegurança associada a este tipo de ocorrências pode levar empresas a adiar projetos, travando o ritmo de expansão da rede e, consequentemente, o crescimento do mercado de veículos elétricos em Portugal.

Infraestruturas críticas merecem proteção reforçada

A UVE considera que esta situação exige uma resposta rápida e firme. Para a associação, deve ser ponderada a classificação dos postos de carregamento como infraestruturas críticas, equiparadas a outras redes essenciais, como telecomunicações ou energia. Essa alteração permitiria enquadrar os atos de sabotagem e furto no âmbito de crimes contra infraestruturas críticas, com agravamento das penas aplicáveis e um efeito dissuasor mais eficaz.

Recorde-se que o Decreto-Lei n.º 22/2025, de 19 de março, já transpôs para a legislação nacional a Diretiva (UE) 2022/2557 sobre a resiliência das entidades críticas, o que torna este enquadramento legal particularmente oportuno e relevante.

A UVE defende ainda a criação de um programa nacional de apoio à proteção e recuperação de postos de carregamento, estruturado em dois eixos principais:

  1. Reforço da segurança e prevenção – apoio à implementação de soluções de reforço da proteção física e eletrónica dos equipamentos, como sistemas de monitorização, alarmes, sensores e revestimentos anti corte, iluminação reforçada ou dispositivos de bloqueio dos cabos, entre outros, com vista a mitigar os efeitos dos furtos e atos de vandalismo.
  2. Reposição rápida do serviço – criação de um mecanismo de compensação para operadores que garantam a reparação e reativação dos postos em prazos curtos, de forma a minimizar o impacto para os utilizadores.

Os postos de carregamento são hoje infraestruturas estratégicas para a mobilidade elétrica e, em muitos casos, já estão classificados como projetos de Potencial Interesse Nacional (PIN). A sua proteção é, portanto, um requisito essencial para assegurar o ritmo de adoção dos veículos elétricos em Portugal e, consequentemente a continuidade do processo de descarbonização da mobilidade em Portugal.

📍 A análise completa, incluindo a listagem detalhada dos municípios afetados e o impacto financeiro estimado por posto, está disponível no site da UVE: (https://www.uve.pt/page/analise-uve-furto-e-vandalismo-em-pvce_outubro-2025/)

Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 96

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