Veículo 100% Elétrico ou Híbrido Plug-In, como escolher a melhor opção?

Artigo de opinião de Henrique Sánchez, publicado na edição nº 75 da revista Blueauto de janeiro de 2024, sobre como fazer a escolha entre um veículo elétrico ou híbrido plug-in de forma a que se adapte da melhor forma às necessidades do utilizador.


Henrique Sánchez
Presidente Honorário da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto


Perante a escolha de um veículo elétrico – híbrido plug-in (PHEV) ou 100% elétrico (BEV) – é importante considerar as suas necessidades diárias de mobilidade: número de km percorridos habitualmente, se o uso é feito maioritariamente em cidade ou em autoestrada e quais as condições para carregamento da bateria do veículo. Pensar apenas na autonomia máxima, binário do motor ou a que potência carrega o veículo, pode levar a decisões que, a longo prazo, provem ser menos adequadas.


Um veículo elétrico é muito mais eficiente quando utilizado em meios urbanos. O dito “pára-arranca” do trânsito é especialmente económico para um veículo elétrico, visto que a velocidade de arranque é baixa e a travagem regenerativa permite recuperar parcialmente essa energia enquanto o veículo abranda.

Em autoestrada, mesmo atingindo uma velocidade constante e regular, a bateria estará a alimentar continuamente o funcionamento do motor elétrico.

Se o uso diário do veículo elétrico não ultrapassa uma média de 50 km, um veículo 100% elétrico com autonomia entre 200/300 km será o mais adequado, visto que teria de carregar a bateria, no máximo, duas vezes por semana (se quiser ter garantida autonomia, para evitar ansiedade). Para médias superiores a 50 km diários deverá considerar veículos 100% elétricos com autonomias superiores aos 200/300km.

Se a sua rotina consiste em percorrer centenas de quilómetros por dia em autoestrada e com acesso limitado a pontos de carregamento rápido ou ultrarrápido, um veículo híbrido plug-in poderá ainda ser viável, mas por pouco tempo: desde o início do  ano de 2023, foram ligados, em média, 46 novos postos por semana na Rede Pública de Carregamento (fonte: MOBI.Data), para além de muitos outros postos em redes privadas (empresas, concessionários, supermercados, hotéis, restaurantes, etc.).

A autonomia média dos veículos 100% elétricos, ligeiros de passageiros, comercializados atualmente em Portugal é de 400 km, alguns modelos ultrapassam os 600 km de autonomia, e começam a existir cada vez mais modelos de veículos ligeiros de passageiros com o valor de venda ao público abaixo dos 30.000€.

São já muito raros os casos que justifiquem verdadeiramente a utilização de um híbrido plug-in.

Se nos primeiros anos da mobilidade elétrica, a reduzida oferta de veículos 100% elétricos, a sua autonomia, o crescimento mais demorado da Rede Pública de Carregamento e o custo de aquisição de um veículo 100% elétrico, podiam fazer pender a balança para os veículos híbridos plug-in na hora da decisão, contudo, hoje, esses motivos só são relevantes em condições muito particulares.


As condições que terá disponíveis para carregar o seu veículo elétrico têm grande importância no momento de escolha de um veículo 100% elétrico ou híbrido plug-in.

É comum ouvirmos o argumento que, se um utilizador não tiver condições para carregar diariamente a bateria do seu veículo 100% elétrico, é melhor optar por um veículo híbrido plug-in, quando é precisamente o oposto.

Um veículo híbrido plug-in tem uma bateria mais pequena – logo, com menor autonomia (em média, 50 km) – e, portanto, necessita de ser carregada diariamente em casa ou no local de trabalho, para evitar ter de utilizar somente a motorização a combustível fóssil quando não tem bateria para alimentar o motor elétrico. Um veículo híbrido plug-in a circular com uso exclusivo do motor a combustão é mais ineficiente em comparação à sua utilização com a combinação de motor elétrico, pois o motor a combustão está a deslocar o peso do carro com a adição da bateria e motor elétrico – que não estão a ser usados.

No caso de um veículo 100% elétrico – por exemplo, com 300 km de autonomia – para um uso diário de 50 km, pode ser carregado num posto rápido na rede de carregamento (durante cerca de 20 minutos), uma ou duas vezes por semana. Este carregamento pode ser conjugado com outra atividade da sua rotina em que o veículo fica parado a carregar enquanto faz outra coisa (compras num hipermercado ou num centro comercial, almoça ou janta num restaurante, utiliza um ginásio, vai a um cinema, teatro ou concerto, etc.). A maioria das superfícies comerciais ou supermercados já dispõe de postos de carregamento nos parques de estacionamento, em adição à restante rede de carregamento – em constante crescimento – onde é possível encontrar HUB´s de carregamento (com vários carregadores) ou áreas de serviço com carregadores rápidos e ultrarrápidos. É cada vez mais fácil encontrar um local onde carregar o seu veículo 100% elétrico e encaixar esse carregamento num momento da sua rotina. Adicionalmente, com a evolução tecnológica dos veículos 100% elétricos, a potência de carregamento que estes veículos atingem é cada vez maior, o que encurta cada vez mais o tempo de carregamento em postos rápidos, super-rápidos ou ultrarrápidos.

No caso de um veículo híbridos plug-in, a potência a que este carrega é consideravelmente mais baixa (AC – Corrente Alterna), logo, pode demorar cerca de 4 a 5 horas a carregar a totalidade da bateria. Idealmente, o carregamento da bateria de um veículo híbrido plug-in deverá – para que não impacte a sua rotina diária – ser efetuado durante a noite, durante horário de trabalho ou durante um período do seu dia em que não necessite do veículo durante essas horas. Adicionalmente, um veículo híbrido plug-in não pode, e podendo não deve, carregar nos Postos de Carregamento Rápido (potência acima de 50 kW em DC – Corrente Contínua), simplesmente porque não carrega mais rapidamente, independentemente da potência do posto; de salientar ainda que nem todos os Postos de Carregamento Rápido dispõem de tomada AC (onde é possível ligar um veículo híbrido plug-in) e, nos casos em que permite, esse carregamento será substancialmente mais caro do que o carregamento efetuado num Posto de Carregamento Normal (potência até 22 kW em AC – Corrente Alterna).

Se tiver como carregar um veículo 100% elétrico em casa ou no trabalho, para além de ser mais cómodo e mais seguro é muito mais económico.


Os veículos 100% elétricos beneficiam de vários descontos e benefícios no estacionamento em vários municípios. Embora os veículos híbridos plug-in tenham acesso a algumas isenções no estacionamento, são menos que as aplicadas aos veículos 100% elétricos.

Nas grandes áreas metropolitanas, é comum ser necessário adquirir um selo específico para a isenção da tarifa de estacionamento, contudo, na maioria dos casos onde é aplicável a isenção de estacionamento, basta ter o Dístico Identificativo de Veículo Elétrico emitido pelo IMT, gratuito, disponível para veículos 100% elétricos ou híbridos plug-in.

Município / Dístico100% elétricohíbrido plug-in
Beja – Dístico IMTIsento (1)Isento (1)
Funchal – Tarifa VerdeIsento (2)50% desconto (2)
Guimarães – Dístico IMTIsento (1)Isento (1)
Lisboa – Dístico Verde (EMEL)12€ / ano (3)
Loures – Dístico Verde (Loures Parque)6€ / ano (3)
Mirandela – Dístico IMTIsento (1)Isento (1)
Oliveira de Azeméis – Pedido de isençãoIsento (4)Isento (4)
Póvoa do Varzim – Dístico IMTIsento (1)Isento (1)
Ribeira Brava (Madeira)Isento
Setúbal – Dístico IMTIsento (1)Isento (1)
  1. Isentos do pagamento de taxas associadas às Zonas de Estacionamento de Duração Limitada os veículos que exibam, no para-brisas, o Dístico Identificativo de Veículo Elétrico emitido pelo IMT
  2. Aplicável a residentes no Funchal, mediante requisição junto do município
  3. Válido nas Zonas de Estacionamento de Duração Limitada sem cancela
  4. Para usufruir da isenção (durante o período de 12 meses – renovável) enviar pedido para a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis com cópia do Dístico Identificativo de Veículo Elétrico emitido pelo IMT, cópia do DUA e identificação pessoal do requerente

Mais informações no site UVE, aqui.


Desde 2015, com a aprovação da Fiscalidade Verde, que os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in beneficiam de vários benefícios fiscais. Os veículos 100% elétricos beneficiam de isenção de ISV – Imposto Sobre Veículos e IUC – Imposto Único de Circulação. Desde 2021, os veículos híbridos plug-in pagam 25% do ISV (com o mínimo de 50 km de autonomia em modo elétrico e máximo de 50g CO2/km de emissões) e não têm isenção do IUC.

Imposto100% elétricohíbrido plug-in
ISV – Imposto Sobre VeículosIsento25% do imposto (1)
IUC – Imposto Único de CirculaçãoIsenton/a
  1. Aplicável a veículos híbridos plug-in ligeiros de passageiros, desde 2021, com o mínimo de 50 km de autonomia em modo elétrico e com o máximo de 50g CO2/km.

Relativamente à dedução do IVA – Imposto de Valor Acrescentado, é aplicável apenas aos veículos ligeiros de passageiros adquiridos por pessoas coletivas, ou singulares com atividade empresarial, desde que o custo de aquisição não exceda os 62.500€ nos veículos 100% elétricos, e os 50.000€ nos veículos híbridos plug-in.

Nota: a dedução do imposto só é possível nos casos em que a atividade exercida possibilite essa dedução e aplica-se apenas ao valor de aquisição e aos gastos com os carregamentos de eletricidade. Em todos os outros gastos de utilização dos ligeiros de passageiros, não é possível exercer o direito à dedução do IVA desses dispêndios.

No caso da Tributação Autónoma aplicável às empresas e às atividades empresariais em nome individual, mais precisamente aos sujeitos passivos do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC) e do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), nos encargos com viaturas ligeiras de passageiros, os veículos 100% elétricos e híbridos plug-in beneficiam de determinadas isenções, segundo as seguintes regras:

  • Veículos ligeiros de passageiros 100% elétricos: as viaturas com custo de aquisição até 62.500€ estão 100% isentas. Os veículos 100% elétricos com valor de aquisição superior a 62.500€ estão sujeitos a uma taxa de 10%, face à isenção de 2022.
  • Veículos ligeiros de passageiros híbridos plug-in: as viaturas com autonomia mínima de 50 km em modo elétrico e emissões inferiores a 50 gCO2/km, as taxas aplicáveis são de 2,5% (para veículos com custo de aquisição inferior a 27.500€); 7,5% (custo de aquisição entre 27.500€ e 35.000€, inclusive) ou 15% (custo de aquisição igual ou superior a 35.000€) do valor do imposto.

Tributação Autónoma

Custo do Veículo100% elétricohíbrido plug-in
Superior a 62.500€10%15%
35.000€ a 62.500€Isento15%
27.500€ a 35.000€Isento7,5%
Até 27.500Isento2,5%

O custo de manutenção de um veículo 100% elétrico é consideravelmente mais baixo do que o dos veículos híbridos plug-in, devido à ausência de um motor a combustão – visto que este necessita de mudança de óleos, velas, filtros, etc.

Um veículo híbrido plug-in têm o melhor e o pior de dois mundos, ou seja, tem um motor elétrico, contudo com uma bateria muito pequena, que não necessita de manutenção, mas também tem um motor a combustão interna e este será sujeito a revisões periódicas como qualquer veículo com motor de combustão interna.

É importante referir que um veículo elétrico sofre menos desgaste a nível dos travões quando comparado com um veículo equivalente a combustão interna, isto acontece porque os veículos 100% elétricos dispõem de travagem regenerativa em que motor elétrico é usado para travar o carro no momento de desaceleração, gerando energia que regressa à bateria.


Podemos facilmente apresentar mais vantagens económicas dos veículos 100% elétricos, sem ter que necessariamente referir a ausência de emissões poluentes dos mesmos, contudo, não deveria ser este o motivo principal que determina a sua escolha?

Para quem trabalha ou reside em grandes áreas urbanas, a diminuição das emissões locais de Gases com Efeito de Estufa (GEE) provenientes dos veículos em circulação (que incluem veículos ligeiros de passageiros, veículos partilhados e transportes coletivos) é verdadeiramente urgente. O setor dos transportes, em particular o transporte rodoviário, é a principal fonte de poluição do ar nas áreas urbanas de Portugal, contribuindo para 6.000 mortes prematuras no país a cada ano e um total de 300.000 na Europa (fonte: OMS).

Já pensou nas suas opções para o Ano Novo que agora se inicia?

Comece por avaliar a troca do seu veículo com motor de combustão interna (gasolina ou gasóleo) por um veículo 100% elétrico, não só pela poupança que isso representa, mas principalmente pelo benefício que traz à saúde de todos.

O futuro é elétrico.

Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 75

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