Acelerar a eletrificação dos transportes rodoviários

Artigo de opinião de Henrique Sánchez, publicado na edição nº 59 da revista Blueauto de setembro de 2022, sobre a necessidade de acelerar a transição para meios de transporte mais sustentáveis.


Henrique Sánchez
Presidente Honorário da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto


A Humanidade caminha em ritmo acelerado, diria que demasiado acelerado, para uma situação de falência e disrupção das atuais cadeias de distribuição, num ambiente de desflorestação, destruição dos ecossistemas e da biodiversidade, secas extremas um pouco por todas as regiões do mundo, rios secos ou com caudais manifestamente insuficientes, albufeiras com reservas historicamente reduzidas, aumento das emissões de gases com efeito de estufa, aumentos generalizados dos preços dos bens de consumo, etc.

Para combater esta situação, sim, porque se trata de combater, urge acelerar a eletrificação dos transportes, especialmente no atual momento de desenvolvimento tecnológico, dos transportes rodoviários, acelerar a transição energética reduzindo substancialmente o consumo de combustíveis fósseis e promover a descarbonização da economia.

Inúmeras ações e iniciativas têm sido levadas a cabo por diversos países ou cidades. Irei referir dois exemplos pelo seu significado e impacto que poderão ter como exemplo para todos nós.


Os Estados Unidos da América acabam de aprovar um Pacote de Incentivos para promover o combate às alterações climáticas no valor de 369.000.000 de USD, englobado no Inflation Reduction Act of 2022,num valor total de 737.000.000 USD. Como pudemos acompanhar pela comunicação social os EUA têm sido fustigados por incêndios gigantescos na Califórnia e no Texas, inundações devastadoras no Kentucky, secas que já levaram à redução do caudal de vários rios e albufeiras.

Em relação apenas à mobilidade elétrica temos os seguintes incentivos à aquisição de um veículo 100% elétrico:

  • Incentivo de 7.500 USD:
    • Veículos 100% elétricos novos (Sedan e Hatchback) até 55.000 USD
    • Veículos 100% elétricos novos (Van, Pickup e SUV) até 80.000 USD

Estes valores aplicam-se aos cidadãos que reúnam as seguintes condições para a aquisição de um veículo 100% elétrico novo:

  • Pessoas singulares com rendimento anual declarado até 150.000 USD
  • Casais com rendimento anual declarado até 300.000 USD
  • Incentivo de 30% do valor do veículo 100% elétrico usado (máximo de 4.000 USD):
    • Veículos 100% elétricos usados até 25.000 USD

Estes valores aplicam-se aos cidadãos que reúnam as seguintes condições para a aquisição de um veículo 100% elétrico usado:

  • Pessoas singulares com rendimento anual declarado até 75.000 USD
  • Casais com rendimento anual declarado até 150.000 USD

Este Pacote de Incentivos à Aquisição de Veículos 100% Elétricos entra em vigor em 2023 e termina em 2032. Acedem a estes Incentivos veículos 100% elétricos encomendados em 2022 desde que a sua entrega só se realize em 2023. O Incentivo é deduzido no preço de venda ao público no momento da sua aquisição (diferente do que está em vigor em Portugal em que o Incentivo é reembolsado ao comprador após o pagamento da totalidade do valor do veículo elétrico). Só poderão aceder a estes Incentivos veículos 100% elétricos fabricados nos EUA, Canadá e México.

Um grande impulso ao desenvolvimento da mobilidade elétrica nos EUA, apesar de algumas condições protecionistas que não são do agrado dos construtores de veículos elétricos asiáticos e europeus.


Província de Hainan, foto CNS/AFP


Na China, na província de Hainan, uma ilha no extremo sul da China, o governo regional decretou o fim da comercialização de veículos movidos a combustíveis fósseis até 2030, quer sejam movidos a gasolina ou a gasóleo, através do recentemente aprovado “Plano de Implementação do Pico das Emissões de Carbono”, numa altura em que a China se vê assolada pelo verão mais quente e seco das últimas décadas, provocando a redução dos caudais dos rios e lagos para níveis que põem em causa a produção agrícola, a produção de eletricidade e poderão inclusive afetar o abastecimento de água às populações.

O mesmo “Plano de Implementação do Pico das Emissões de Carbono” estabelece ainda a criação de incentivos fiscais à aquisição de veículos elétricos e a expansão da Rede de Carregamento para veículos elétricos.


Este é um excelente exemplo para ser repetido em todas as regiões insulares. As ilhas são os melhores locais para o rápido desenvolvimento da mobilidade elétrica, pois os trajectos são normalmente mais curtos (existem exceções), o custo dos combustíveis fósseis é maior (devido à insularidade) e a possibilidade de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis está facilitada pelos ventos, no caso produção eólica, e também pela menor poluição atmosférica, no caso da produção fotovoltaica.


Estes são apenas dois exemplos das transformações gigantescas que se aproximam. A França vai proibir a publicidade aos automóveis movidos a combustíveis fósseis, sejam com motores a gasolina ou a gasóleo, numa campanha muito semelhante à da proibição da publicidade do tabaco, pelos malefícios que causam à saúde pública das populações.

Urge, assim, acelerar o desenvolvimento da mobilidade elétrica, a nível global, em sintonia com a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis e diminuir consideravelmente o consumo dos combustíveis fósseis. O tempo esgota-se, os impactos das alterações climáticas já estão à vista de todos. E ainda por cima os veículos elétricos são mais económicos, quer na sua utilização, quer na sua manutenção.



O que nos espera é o que o Prof. Tony Sebas tão bem vem explicando nas suas conferências:

“Não é uma transição energética, é uma disrupção tecnológica, que não só não nos vai custar dinheiro como nos vai fazer poupar dinheiro, independente de qualquer vontade governamental”

É a Mobilidade Elétrica.

Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 59

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