ALERTA VERMELHO

Artigo de opinião de Henrique Sánchez, publicado na edição nº 58 da revista Blueauto de agosto de 2022, sobre a emergência climática.


Henrique Sánchez
Presidente Honorário da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos
Artigo Mensal de Opinião na Revista Blueauto


O tema e título deste artigo surgiram após ter visto o mais recente documentário de David Attenborough, “A Terra no Limite: A Ciência do Nosso Planeta”. Considero-me uma pessoa bem informada, no entanto, pude confirmar que a situação atual do Planeta Terra e as condições que permitem aos Humanos aqui viver poderão estar seriamente em causa.

Este documentário está disponível na Netflix e desde já aconselho o seu visionamento.

Este documentário baseou-se no mais recente estudo do Centro de Resiliência de Estocolmo, da Universidade de Estocolmo (Stockholm Resilience Centre / Stockholm University) levado a cabo pelo cientista Johan Rockstrom. Nele procurou-se identificar quais os limites da Terra, quais são essas fronteiras que, se ultrapassadas, põem em risco o futuro da Humanidade no Planeta Terra. Foram identificados nove limites dos quais dois ainda não estão quantificados. Em relação aos restantes sete foi criada uma escala de três níveis: Verde – ainda seguro, Amarelo – zona de incertezas com aumento substancial do risco e Laranja – risco muito elevado, ultrapassadas as zonas de incerteza.

Aqui estão os níveis identificados, fruto da investigação de vários cientistas ao longo de dezenas de anos:

  1. Destruição da camada de ozono (verde)
  2. Perda de Biodiversidade e extinção de espécies (laranja)
  3. Poluição de produtos químicos nocivos (não quantificado)
  4. Alterações Climáticas (amarelo)
  5. Acidificação dos oceanos (verde)
  6. Ciclo da água e consumo de água doce (verde)
  7. Alterações dos sistemas terrestres, desflorestação (amarelo)
  8. Nitrogénio e fósforo fluem para a biosfera e os oceanos (laranja)
  9. Emissões de aerossóis (não quantificado)

Temos 9 limites, dos quais 2 não quantificados, 3 verdes, 2 amarelos e 2 laranjas. São justamente os amarelos e os laranjas e a sua conjugação que poderão levar-nos para um caminho apocalítico, que urge evitar e que ainda temos uma pequena janela de oportunidade para o fazer.

Os Limites da Terra


Todos temos acompanhado – diariamente –, a profusão de fogos, inundações, secas, barragens a níveis extremamente baixos, lagos que secaram, rios com caudais que põem em causa a sua sobrevivência, etc. . No entanto, tudo parece continuar, ano após ano, como se nada se passasse, como se fosse uma inevitabilidade à qual não podemos escapar e que “no futuro” tudo se resolverá. Pois, creio bem que não, e o que está a desenvolver-se aos nossos olhos é demasiado grave e exige que todos nós nos interessemos pelo tema.

Vou apenas referir alguns exemplos bem recentes, pois creio que todos temos presentes as imagens que vemos diariamente na comunicação social.

No Reino Unido, nos arredores de Londres, incêndios devastaram alguns bairros destruindo dezenas de habitações como se fossem cabeças de fósforo a arder, os comboios suspenderam a sua atividade pois não estão preparados para temperaturas a rondar os 40 graus Celsius (só têm aquecimento, não dispõem de ar condicionado), a pista do aeroporto de Luton, a norte de Londres derreteu pelas elevadas temperaturas, os bombeiros ingleses não têm equipamentos, nem viaturas para combate a incêndios florestais ou rurais, estão apenas equipados para incêndios urbanos. Este exemplo alerta-nos que vamos ter de nos adaptar às novas condições, que já aí estão, não é uma questão de “se”, é mais quando, e o mais rápido possível.

Incêndio nos arredores de Londres


Poderia também referir, a seca extrema do rio Pó, em Itália, o lago Baikal (a maior reserva de água doce do Mundo), no sul da Rússia, perto da Mongólia, que atingiu níveis críticos em 2015, o mar de Aral que se estende do Cazaquistão ao Uzbequistão, o mar Cáspio situado entre a Rússia, o Azerbaijão, o Irão, o Turquemenistão e o Cazaquistão, ou das barragens portuguesas que estão a atingir limites mínimos muito perigosos que poderão pôr em causa não só o abastecimento de água para a agricultura, mas também o próprio abastecimento de água potável para as populações.

Barragem do Lindoso                                                                    Rio Pó (Itália)


Mar Cáspio                                                                     Mar de Aral


Depois dos incêndios gigantescos na Austrália, Sibéria, Suécia, este ano tivemos incêndios no Alasca, em Marrocos, além dos incêndios recorrentes na Califórnia (incontroláveis), na Alemanha e na República Checa, na bacia do Mediterrâneo, Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Croácia, etc. Os incêndios, além da destruição imediata da fauna, da flora, das florestas, de vidas humanas, das emissões de CO2, destroem milhares de ninhos de aves, dizimam pequenos roedores, répteis e insetos, destroem todo o ecossistema e a biodiversidade, fundamental para a sobrevivência da espécie humana.

O panorama é devastador, as perspetivas são muito sombrias, no entanto existe uma janela de oportunidade para invertermos a atual situação, mas tal exige de todos nós mudanças efetivas – o tempo das palavras terminou!

Alguns exemplos do que já está a ser feito e do muito que podemos e devemos fazer.

De destacar uma série de nove documentários coproduzidos pela RTP e pela Fundação Gulbenkian, do melhor que se tem feito, não só do ponto de vista técnico, da investigação subjacente, como dos exemplos práticos que nos apresenta. A série chama-se, muito apropriadamente, Planeta A, a ver com muita atenção.

Um exemplo que vem do Brasil. O famoso fotógrafo Sebastião Salgado e a sua mulher Lélia Wanick plantaram 2 milhões de árvores nos últimos 18 anos, permitindo que 172 espécies de aves, 33 de mamíferos, 15 de anfíbios, 15 de répteis e 293 espécies de plantas, reencontrassem o ecossistema para se desenvolverem e procriarem.

O casal decidiu começar o Instituto Terra, uma pequena organização que fez reviver a floresta.

“Há apenas uma criatura que pode converter dióxido de carbono em oxigénio, e essa é uma árvore. Precisamos replantar as florestas.”

Sebastião Salgado e Lélia Wanick e o seu fantástico Instituto Terra


Como temos de fazer algo, agir e mudar comportamentos, aqui estão dois exemplos para qualquer um poder realizar. O primeiro foi retirado das redes sociais (existem coisas positivas, apesar de tudo) e consiste em guardar os caroços dos frutos que comemos, secá-los, e depois quando caminhamos pela natureza, ou mesmo quando nos deslocamos de carro, lançá-los na Natureza. Ela se encarregará de fazer nascer árvores de fruto existindo condições naturais para tal acontecer.

Outro exemplo decorre de uma conversa com um amigo que me dizia que há dezenas de anos ele (e já agora eu também) era um poluidor nas praias, pois ao fumar enterrava cuidadosamente na areia a beata, assim como os pauzinhos dos gelados. Mais tarde, deixou (deixámos) de o fazer e passou a não abandonar qualquer lixo nas praias, trazendo de volta todo o lixo que pudesse produzir. Por fim, agora, não só traz todo o lixo que produz (produzimos) como se entretém a retirar das praias o lixo que outros aí deixaram. Hoje é-me impossível ir a uma praia e ficar indiferente ao lixo existente, passou a ser um passatempo enquanto caminho à beira-mar. Vou recolhendo lixo que outros aí deixaram. Retiramos o lixo e serve de exemplo a quem nos vê, principalmente as crianças e os mais jovens.

Por último, é urgente e imperativo reduzirmos o consumo de combustíveis fósseis, tornarmos as nossas casas mais eficientes, menos consumidoras de energia, sempre que possível produzirmos a nossa própria energia através de sistemas de painéis fotovoltaicos, não desaproveitar a água, enfim, em relação a tudo: Reduzir, Reaproveitar e Reciclar.

Os Veículos Elétricos são mais eficientes, consomem menos energia para percorrer a mesma distância dos movidos a motores térmicos e são muito mais económicos na sua utilização.

Aqui fica o desafio, entre muitos outros que cabe a cada um de nós identificar e abraçar:
Mude para um Veículo Elétrico.

Henrique Sánchez
Lisboa, 29 de julho de 2022

Consulte a edição digital da Revista Blueauto, nº 58

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